terça-feira, julho 25, 2017

Além da ilusão, de Rebecca Zlotowski ***1/2

O universo imaginário-artístico de “Além da ilusão” (2016) se assemelha ao da obra imediatamente anterior da diretora Rebecca Zlotowski, “Grand Central” (2016), configurando-se como obras marcadas por uma atmosfera de romantismo mórbido e um certo classicismo em seu formalismo. Nesse trabalho mais recente da cineasta, há até uma preponderância maior para a estilização narrativa, além de um subtexto mais sofisticado e nebuloso na sua visão de uma Paris tomada pelo nazismo e a alienação mística. Aliás, é fascinante o paralelo que se estabelece entre a atração pelo mundo metafísico e a paixão pelo mundo de fantasias da indústria cinematográfica – a necessidade dos personagens por alguma espécie de magia transcendental se vincula a um papel ambíguo, tanto no sentido de ser uma válvula de escape perante uma realidade de opressão sócio-cultural quanto um instrumento obscurantista que impede que os indivíduos contestem esse mesmo ordenamento de opressão. Tal discurso existencial vem embalado por um roteiro de notáveis sutilezas e por uma estética requintada em suas nuances imagéticas, fazendo com que as soluções criativas de “Além da ilusão” soem obscuras e atraentes na forma com que se recusam a apresentar caminhos fáceis para o espectador.

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