segunda-feira, julho 03, 2017

Z - A cidade perdida, de James Gray ****

Assim como já tinha feito em “Era uma vez em Nova Iorque” (2013), o diretor norte-americano James Gray recria o gênero do “filme de época” sob uma perspectiva bastante particular e preciosista em “Z – A cidade perdida” (2016). Com uma trama baseada em fatos reais, não há um foco principal concentrado na reconstituição de fatos históricos, mas sim numa narrativa que se situa entre o classicismo e o atmosférico, evocando um insólito encontro entre David Lean e Werner Herzog. Quando a história fica localizada na parte “civilizada” da Inglaterra, encenação, fotografia e direção formam um conjunto estético que tanto se vincula à linguagem naturalista quanto a uma estilização de beleza visual desconcertante. Aliás, pode-se dizer que os quinze minutos iniciais de “Z” traz uma das mais ácidas dissecações sobre a questão do preconceito classes na sociedade ocidental já apresentadas no cinema. Quando a ação se volta para a selva amazônica, formalismo e narrativa ganham uma conotação de sutil viés delirante, focando na clássica dicotomia entre o jogo de atração e repulsa do homem ocidental frente a uma natureza misteriosa, bela e perigosa, na tradição de obras épicas que alternam com admirável naturalidade a tensa aventura “física” e a viagem existencial – nesse sentido, por vezes a sofisticada e intrigante concepção artística de Gray para “Z” faz lembrar a obra-prima “conradiana” “Apocalypse Now” (1979).

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