sexta-feira, julho 14, 2017

Na vertical, de Alain Guiraudie ***1/2

Depois de recriar o gênero suspense de maneira bastante peculiar no brilhante “O estranho do lago” (2012), o diretor francês Alain Guiraudie monta uma narrativa idiossincrática e fascinante em “Na vertical” (2016). O cineasta parece buscar inspiração na encenação crua e libertária de Pasolini e nas atmosferas delirantes e sardônicas dos melhores trabalhos de Luis Buñuel, com um resultado final que está muito longe do derivativo. Por vezes, até se tem a impressão de se estar assistindo a uma espécie de conto moral distorcido e que se desenvolve por uma lógica temática-formal muito particular. Ao mesmo tempo, cada nuance imagética da austera direção de fotografia, a edição de ritmo sóbrio e o roteiro de desenvolvimento desconcertante e de estranha coerência revelam um tremendo rigor artístico em termos de concepção e execução da narrativa. Nenhuma das escolhas criativas de Guiraudie é marcada pela gratuidade ou a simples procura do choque – o caráter explícito e bizarro das sequências de sexo, a caracterização de situações e personagens que sintetizam viés naturalista e onirismo, a reinterpretação irônica da mitologia cristã e a constante sensação de uma realidade em desagregação reforçam um discurso artístico de forte caráter humanista e de grande ousadia estética.

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