quinta-feira, julho 20, 2017

Divinas divas, de Leandra Leal ***

A estrutura narrativa de “Divinas divas” (2016) lembra bastante outro documentário de temática semelhante, “Dzi Croquettes” (2009) – a partir de lembranças pessoais da diretora Leandra Leal, a obra faz um inventário histórico e sentimental sobre algumas das principais figuras do universo de artistas travestis que despontaram no cenário cultural brasileiro nos anos 60. O roteiro estabelece uma forma simples de contar a sua história, alternando sequências de ensaios e apresentação de um show recente que trouxe as artistas de volta à cena, trechos com fotos e imagens de arquivo e depoimentos de suas principais personagens. Se esse encadeamento da trama pode parecer previsível em um primeiro momento, com o desenvolvimento da narrativa vai se revelando coerente e eficaz. A abordagem emocional e a atmosfera do documentário têm um forte viés de sentimentalismo e nostalgia, mas Leal consegue oferecer outras nuances para o seu trabalho, enveredando ainda para uma perturbadora e sardônica perspectiva mista de malícia, sordidez e teor grotesco. Assim, o retrato existencial que oferece passa distante do unidimensional e meramente laudatório, focando com contundência e vigor uma passagem histórica do Brasil, no caso o tenebroso período da ditadura militar, marcada por uma ambígua combinação de sombria repressão moral e esfuziante hedonismo comportamental.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Gosto muito da cena em plano sequencia delas se dirigindo até o teatro