sexta-feira, julho 28, 2017

Más notícias para o Sr. Mars, de Dominik Moll ***

Em termos de estrutura narrativa, a produção francesa “Más notícias para o Sr. Mars” (2015) beira a banalidade devido a alguns excessos de convencionalismos formais e temáticos. O que desperta curiosidade em relação ao filme é a oscilação entre sobriedade e exagero de sua encenação e a riqueza simbólica de seu subtexto. O diretor Dominik Moll consegue extrair uma interessante atmosfera mista de pesadelo e paranoia, em que a caracterização dos personagens e situações apresenta uma forte carga opressiva que destila um incómodo mal-estar existencial. Tal concepção se mostra em sintonia com um roteiro que parece refletir em suas nuances cômicas e dramáticas os dilemas e contradições da sociedade europeia contemporânea. A figura do protagonista Philippe Mars (François Damiens), um amargo burocrata perplexo com as complexidades e estranhezas do mundo que o cerca, parece representar o tradicional indivíduo ocidental incapaz de lidar com a nova ordem mundial na sua desumanizada visão sócio-econômica (representada pela arrivista filha mais velha do personagem principal) e com a própria reação cultural a esse ordenamento (concentrada, por outro lado, na figura do contestador e ingênuo caçula). Se tais analogias da trama soam simples, é inegável também que com o desenvolver da narrativa oferecem considerável tensão dramática e irônica para a obra, ainda que as conciliadoras e forçadas resoluções finais do roteiro tirem um pouco da contundência da visão crítica do filme.

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