Se em “Baile Perfumado” (1997) predominava uma narrativa acelerada e que beirava quase a um tom místico, em “Deserto Feliz” (2008), obra mais recente de Paulo Caldas, o registro visual é marcando por um tom mais contemplativo. Narrando a história de Jéssica (Nash Laila), uma menina que sai de sua casa encravada no sertão de Pernambuco, onde era constantemente violentada pelo padrasto, e vai para Recife se prostituir, Caldas valoriza movimentos de câmera que se utilizam de planos seqüência e uma montagem de poucos cortes. O sertão é retratado num registro melancólico, mas que valoriza a estranha beleza dos cenários áridos, ao mesmo tempo que o ambiente de “trabalho” das meretrizes na capital baiana merece uma ambientação ambígua: se por um lado se tem a degradação da vida diária da protagonista, por outro prisma o cineasta parece querer resgatar um perverso olhar deslumbrado do gringo que faz turismo sexual e que vai para Recife em busca de um mundo encantado de sexo, drogas e forró. Dentro dessa visão que procura fugir de fáceis maniqueísmos, os dilemas na vida de Jéssica não são marcados apenas pelas influências externas, mas também pelas próprias escolhas pessoais da menina. Assim, a possibilidade dela casar com um “príncipe encantado” alemão não se configura simplesmente como um final feliz.
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