Tentar entender e apreciar “Tetro” (2009) pela consistência de seu roteiro representa deixar de se aventurar pelas verdadeiras qualidades do filme em questão (e são muitas). Para começar, o que Coppola faz em sua obra mais recente é cinema, e não literatura. A trama de “Tetro” parece composta de homenagens e referências a outras produções do próprio diretor. A essa altura do campeonato, e com tudo de bom que ele já fez pelo cinema, ele tem mais do que o direito de se auto-canibalizar. E ele faz isso com muita convicção e tesão. A fotografia preto-e-branco estilizada de forma magnífica, com direito a névoas que parecem ser quase palpáveis, traz à nossa mente o visual onírico sombrio de “O Selvagem da Motocicleta” (1983). Nos pequenos e fulgurantes trechos coloridos, que representam os momentos de flash back, parece que estamos vendo uma continuação do artificialismo esplendoroso de “O Fundo do Coração” (1982). A caracterização atemporal de bairros tradicionais de Buenos Aires reedita os cenários de puro imaginário de “Cotton Club” (1984) e novamente de “O Fundo do Coração” (o que mostra como esse último é uma obra chave para se entender as concepções barrocas de Coppola). Mas “Tetro” não se reduz a um manancial de citações estéreis. Tais aparentes reciclagem apenas reafirmam o estilo particular do diretor, além de receberem um tratamento voluptuoso na forma com que Coppola filma a sua saga familiar de tinturas quase novelescas. As cenas com os singelos jogos eróticos de Bennie (Alden Ehrenreich) e suas amigas, por exemplo, são uma tradução perfeita dessa natureza hedonista que emana do olhar da câmera do cineasta. E a cereja do bolo vem na interpretação de Vincent Gallo no papel-título, que dá uma dimensão épica e cheia de nuances para um personagem que a princípio teria apenas um fio de profundidade em seus conflitos.
2 comentários:
E eu ainda não consegui ver o novo do Coppola. Tá todo mundo falando bem dele! Tenho que corrigir esse falha urgentemente.
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Todo mundo falando bem? Acho que vi mais críticas detonando o fime do que elogiando. Provavelmente, é gente achando que ele deveria ter feito a quarta parte de "O Poderoso Chefão"...
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