A atriz e diretora francesa Sandrine Bonnaire realiza no documentário “O Nome Dela é Sabine” (2007) uma espécie de jornada sombria em relação ao próprio passado. Sua intenção é mostrar a trajetória de sua irmã autista Sabine, contrapondo imagens domésticas antigas com o retrato do cotidiano da sua irmã em uma instituição especializada. O contraste de tais registros é chocante e perturbador. Nas cenas de arquivos, vemos uma jovem vivaz e bastante loquaz, ainda que arredia. Ao fundo, a narração Bonnaire tem um tom nostálgico e melancólico, como que antevendo uma virada trágica na vida irmã. Após a morte do pai e a saída dos irmãos para formarem suas próprias famílias, Sabine é internada num sanatório onde recebe pesadíssimo tratamento por medicamentos. As filmagens mais atuais do documentário focam o resultado de tal tratamento, mostrando Sabine com a sua saúde mental e física bem abalada: 30 quilos a mais, com reflexos e velocidade de raciocínios bastante reduzidos, babando constantemente, é uma entristecida versão debilitada da pessoa que era. Mesmo com o seu forte envolvimento emocional com a biografada, Sandrine Bonnaire busca uma abordagem seca e sem muitas concessões ao sentimentalismo fácil. Por mais que evidencie a inépcia do tratamento que Sabine recebeu, a diretora também evoca certa culpa por uma possível omissão na situação da irmã. E é nesse ponto que justamente está a maior virtude de “O Nome Dela é Sabine” – um relato cru e visceral em que não sobra espaço para vilões ou vítimas, pois até mesmo Sabine não é reduzida a um estereótipo de “coitadismo”.
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