terça-feira, fevereiro 08, 2011

Scott Pilgrim Contra o Mundo, de Edgar Wright ****


A HQ na qual “Scott Pilgrim Contra o Mundo” (2010) é baseado já se apresenta como uma obra à parte. Incorporando influências de mangás na sua concepção visual e fazendo uma série de referências à cultura pop contemporânea (música, games, comportamento), o gibi do artista canadense Bryan Lee O’Malley faz um retrato irônico e apaixonado de boa parte da juventude ocidental do novo milênio. A versão cinematográfica dirigida pelo britânico Edgar Wright consegue passar com perfeição esse caleidoscópio de ideias e estilos para as telas, mas também busca uma linguagem própria e original como cinema. A seqüência inicial, logo de cara, já deixa evidente tais intenções: a banda Sex-o-Bomb (na qual Scott é baixista) está ensaiando num quartinho furreca, e de repente, quando a música irrompe, aquele mesmo espaço se projeta de forma irreal, ganhando uma dimensão de um grande palco de show. A própria música ganha uma representação visual, com raios e diversos grafismos saindo dos instrumentos. Em “Scott Pilgrim”, tempo e espaço têm uma noção própria de desdobramento. Há cortes sensacionais na edição – de repente Scott está num ambiente e na variação de um close ele já está em outro local. Truques como esse não se configuram apenas como demonstração de virtuosismo técnico, mas também complementam a própria essência da trama. Os efeitos especiais tirados do universo dos games refletem a forma de Scott e os demais personagens verem o mundo: veloz, confuso, imaturo, quase sem pausa para reflexões. Um dos grandes méritos de Wright é combinar essa gama de estéticas diversas e fazer com que o filme não tenha uma narrativa picotada ou com cara de vídeo clip. A ação em “Scott Pilgrim” é majestosa na sua encenação: coreografias de artes marciais elaboradas de forma épica, trucagens de um encanto visual extraordinário, diálogos altamente espirituosos.

O que escrevo aqui, entretanto, é uma espécie de impressões resumidas de uma produção tão repletas de nuances quanto “Scott Pilgrim Contra o Mundo”. O filme é composto ainda de outros detalhes que podem conquistar o espectador por diferentes motivos: a trilha sonora repleta de marcantes temas compostos por Beck, o elenco carismático, as homenagens/citações culturais (a começar pelos personagens Stephen Stills e “Jovem” Neil, claras referências aos fundadores do Buffalo Springfield). “Scott Pilgrim” também confirma Edgar Wright, o mesmo dos igualmente brilhantes “Todo Mundo Quase Morto” (2004) e “Hot Fuzz – Chumbo Grosso” (2007), como o grande nome do cinema britânico a ter surgido nos últimos dez anos.

Nenhum comentário: