O que ouço ou leio sobre “Tio Boonmee, Que Pode Recordas Suas Vidas Passadas” (2010) me soa muito extremista. Se por um lado há aqueles que exaltam virtudes revolucionárias no filme (e que podem até assustar aos desavisados), por outro há aqueles que o deploram por um suposto hermetismo de sua narrativa que se afasta do modelo linear convencional (e que também assustam os tais desavisados). É claro que a obra mais recente do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul pode causar estranhamento àqueles habituados a um determinado tipo de produção mais digerível, mas não dá para dizer que chega ao nível do incompreensível. Trabalha-se com conceitos que cineastas como Alain Resnais e David Lynch já exploraram com eficácia, principalmente numa ambientação em que o real e o imaginário se fundem a um ponto em que não podemos distingui-los com precisão. No caso do filme em questão, noções de espiritualidade oriental, derivadas do budismo, integram-se nas concepções particulares de Weerasethakul, o que para um olhar ocidental pode aumentar a sensação de bizarrice. Fantasmas de familiares, macacos-humanos, peixes que falam, lendas, transitam com naturalidade entre os indivíduos “normais”, evocando uma simbologia serena. No final das contas, o filme trabalha com temas simples como a morte, a saudade, as lembranças, mas com um ritmo mais contemplativo e uma perspectiva cultural e valorativa diferenciada. A sequência final, uma sutil ruptura nos planos de realidade, é a síntese desconcertante do espírito temático/formal de “Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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