quinta-feira, março 24, 2011

Passe Livre, de Peter e Bobby Farrelly ***1/2


Ao ressaltar a importância do casamento e da fidelidade conjugal, “Passe Livre” (2011) estrutura-se quase como um conto moral. Isso não é impedimento, entretanto, para os irmãos Farrelly abusarem de um humor alucinado e com direito a farpas contra tudo que vem pela frente, dos valores da sociedade de consumo até os tabus sexuais norte-americanos. Como nos seus melhores filmes anteriores, os manos diretores combinam com rara eficiência escatologia, humor negro e até uma certa dose de romantismo. Pode-se perceber nos Farrelly um traço quase autoral na encenação cinematográfica, em que uma fotografia ensolarada, que beira o asséptico, como se evocasse o dourado american way of life, entra em contradição perturbadora com alguns dos truques mais grosseiros de sua ácida comicidade. Assim, parte dos valores mais caros da sociedade ocidental é satirizada impiedosamente, apesar de que na superfície estejamos vendo apenas alguns momentos de comédia pastelão. Assim, apesar de se desenvolver na área do humor físico e ostensivo, “Passe Livre” demonstra uma refinada sutileza na sua crítica social e que se mostra mais impactante que o discurso explicitamente panfletário dos documentários de Michael Moore, por exemplo.

Nenhum comentário: