sexta-feira, março 11, 2011

Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira ***


Os limites entre a realidade e o imaginário dentro do formato documental receberam abordagens diversas em obras como “Jogo de Cena” (2007) e “Dzi Croquetes” (2009). Em “Terra Deu, Terra Come” (2010), tais fronteiras voltam a serem exploradas com resultados por vezes desconcertantes. O diretor Rodrigo Siqueira faz um registro pouco convencional sobre o cotidiano e o imaginário de um pequeno vilarejo no sertão mineiro, centrando com destaque nas delirantes concepções sobre a morte dos nativos da região. A figura de Pedro de Alexina, algo entre o sábio e o delirante, serve como guia para Siqueira e o espectador tentarem compreender uma cultura aparentemente exótica para a ótica urbana, mas que na verdade também se revela como síntese das diversas influências religiosas que impregnam o Brasil. Apesar de documentarista, Siqueira se mostra insatisfeito em usar apenas fatos para ilustrar seu filme. Assim, parte para uma experiência estética em que a encenação por parte dos membros do vilarejo é um recurso explorado sem cerimônia para nos revelar um mundo em que a subjetividade do olhar é o elemento mais primordial. Fazer aquelas pessoas interpretarem a si mesmas e os seus costumes não é uma simples redução artificial, mas também um questionamento sobre a obrigação dos documentários apenas registrarem o real para atingirem seus objetivos de uma pretensa “verossimilhança”. No final das contas, a fidelidade de Siqueira não é com o verossímil, mas com as ricas impressões pessoais de seus “personagens” perante o mundo que os cerca.

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