terça-feira, março 01, 2011

127 Horas, de Danny Boyle ***1/2


A cinematografia de Danny Boyle não é pautada por uma unidade temática, mas sim formal. Seus filmes são marcados por uma conjunção épica de imagem, som e fúria, abordagem essa que tanto pode se aplicar para uma saga de junkies em busca de drogas ou redenção (“Trainspotting”, 1996) quanto para um musical descabeladamente romântico derivado de Bollywood (“Quem Quer Ser Milionário”, 2008), ou até mesmo para um filme de zumbis (“Extermínio”, 2002). Em “127 Horas” (2010), o diretor aplica suas particulares concepções estéticas para o subgênero aventura de sobrevivência edificante e consegue preservar sua identidade autoral. Trabalhando quase que dentro do espaço limitado de um buraco e centrado na figura de um personagem, insere uma série de trucagens bem sacadas, indo da tela dividida até sutis variações de iluminação que ilustram os momentos delirantes e oníricos do protagonista, além de abusar de uma trilha musical apoteótica e frenética. O excesso de cortes pode até beirar o clipeiro, mas oferece um ritmo ágil à narrativa e condiz com o próprio espírito aventureiro Aron Ralston (James Franco em interpretação que oscila muito bem entre o sereno e o over). Os radicais provavelmente implicarão com o luminoso final feliz e os velhos fundamentos dos filmes baseados em fatos reais (com direito a letreiro dizendo como tudo acabou bem para todos), mas a verdade é que Boyle conseguiu envenenar com criatividade algumas gastas ortodoxias do cinema norte-americano.

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