quarta-feira, março 16, 2011

Rango, de Gore Verbinski ***1/2


Em animações recentes, o uso de referências e citações a clássicos do cinema é uma prática recorrente. Em “Rango” (2011), entretanto, tal recurso acaba ganhando uma dimensão diferenciada. O filme de Gore Verbinski é uma verdadeira declaração de amor ao gênero do spaghetti western, com o roteiro emulando detalhes da trama de “Era Uma Vez no Oeste”, incluindo ainda a recriação de enquadramentos típicos de produções dirigidas por Sergio Leone e outros maneirismos característicos do saudoso cineasta italiano. A fotografia impressiona também pela beleza de paisagens áridas, cortesia da colaboração com Roger Deakins, parceiro dos Irmãos Coen na concepção dos faroestes outonais “Onde Os Fracos Não Têm Vez” (2007) e “Bravura Indômita” (2010). A figura do protagonista Rango remete ao pistoleiro misterioso encarnado por Clint Eastwood na clássica trilogia spaghetti de Leone. Na verdade, aparece a própria versão animada de Eastwood como o Espírito do Oeste. A composição visual dos demais personagens antropomorfizados de “Rango” é outro achado criativo, pois são vividos por animais não exatamente “fofinhos” (cobras, lagartos, toupeiras, porcos-espinhos, corujas, tartarugas, tatus); na verdade, beiram o asqueroso, o que se mostra em perfeita sintonia com a proposta da animação.

Apesar de essencialmente ter como centro de suas homenagens as produções de spaghetti western, “Rango” ainda se permite a aventurar em outros gêneros. A seqüência em que o personagem principal e seus companheiros enfrentam um bando de toupeiras “pilotando” morcegos se dá aos moldes do clássico ataque de helicópteros em “Apocalipse Now” (1979) – não à toa, há a utilização de “A Cavalgada das Valquírias” de Richard Wagner como tema musical. Nuances do roteiro também trazem lembranças das intrincadas jogadas criminosas de “Chinatown” (1974). E é claro que não dá para esquecer o momento em que aparece o próprio Hunter Thompson no meio de seu delírio gonzo em “Medo e Delírio em Las Vegas” (1998). No final das contas, é bastante provável que cinéfilos velhos de guerra vão curtir muito mais “Rango” do que o inocente público infantil...

Um comentário:

pseudo-autor disse...

Eu não o considero uma produção infantil, mas é uma belíssima animação sem dúvida.

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