quinta-feira, março 17, 2011

Restrepo, de Sebastian Junger e Tim Hetherington ***


O formato de “Restrepo” (2010) pode provocar a presunção de que tal documentário tenha uma intenção muito mais jornalística do que propriamente cinematográfica ao combinar as filmagens “in loco” de um pelotão do exército dos Estados Unidos em combate em uma região do Afeganistão contra guerrilheiros talebans com depoimentos em estúdio dos soldados do referido pelotão. O fato do filme ser produzido pela National Geographic acentua ainda mais esse aspecto de uma grande reportagem. Ocorre, entretanto, que boa parte dos méritos de “Restrepo” não se concentra somente em sua parte temática. O impacto das sequências de combate impressiona pelo seu registro cru e brutal, por mais que a câmera fique tremendo com relativa constância (o que é muito natural, afinal, as filmagens se dão em plena guerra real). Os diretores Sebastian Junger e Tim Hetherington também conseguem captar fortes nuances dramáticas nos momentos de “calmaria” dos militares, principalmente quando eles são obrigados a buscar uma convivência harmoniosa, na medida do possível, com os moradores do lugarejo localizado na região onde se travam as batalhas. Mas como conseguir estabelecer uma relação amistosa quando mulheres e crianças nativas são mortas no fogo cruzado? É fascinante ainda em “Restrepo” a forma com que os “vilões” do filmes são caracterizados – em nenhum momento conseguimos vê-los efetivamente, é quase como se os talebans fossem uma força invisível e sobrenatural incrustada na floresta em que se escondem. Essa caracterização espontânea de uma desconhecida força da natureza remete muito ao conceito do temor do homem branco ocidental perante uma natureza agressiva e misteriosa, tão presente, por exemplo, na literatura de Joseph Conrad e, por tabela, no clássico do cinema de guerra “Apocalypse Now” (1979).

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