Um dos méritos da produção franco-argelina “Fora-da-Lei (2007) está na eficiente síntese que faz entre os gêneros do drama político histórico e do policial. Assim, o diretor Rachid Bouchareb busca um viés realista na sua abordagem, mas sem abandonar o senso formal mais estilizado. O filme evoca algo do cinema noir, principalmente nas tomadas noturnas, valorizando sombras, fumaças e outros elementos sombrios. A narrativa em si é mais convencional e por vezes explora de forma superficial nuances que pediriam uma visão mais aprofundada. Mesmo assim, é de se admirar o ritmo tenso e dinâmico do filme, com sequências de ação que impressionam pela brutalidade e tensão. É na parte temática, entretanto, que Bouchareb reserva as maiores ousadias de “Fora-da-Lei”. Tendo a luta da independência da Argélia como maior mote da trama, a obra relaciona tal evento histórico com o drama pessoal de três irmãos, que oscilam entre dúvidas e ações radicais em relação ao conflito. Os sacrifícios íntimos de cada um deles em nome de uma causa coletiva são evidenciados com crueza e melancolia, mas ao mesmo tempo o discurso do subtexto da produção deixa claro que sem ações violentas e a sublimação dos desejos individuais a Argélia nunca teria conquistado sua autonomia. De certa forma, justifica-se as ações terroristas, mas a franqueza de tal visão não deixa de ser admirável em tempos de hipocrisia do politicamente correto.
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