segunda-feira, junho 27, 2011

Homens e Deuses, de Xavier Beauvois ****



Um filme abordar questões que envolvam questões religiosas sempre é complicado. Afinal, corre-se o risco das acusações de herético ou, ao contrário, de estar fazendo propaganda de alguma vertente em específico. “Homens e Deuses” (2010), de certa forma, passa ao largo de tais direcionamentos. Apesar da sua trama, baseada em fatos reais, ter como protagonistas monges católicos, não se pode dizer que o filme se refira a uma religião institucional específica. Para o diretor Xavier Beauvois, o que realmente interessa é a religião como sentimento e princípio. Ao narrar a história dos monges franceses que viviam em um templo na Argélia e acabaram assassinados por terroristas em 1996, a produção procurar estabelecer uma ótica de coerência para uma trajetória que para muitos poderia parecer simplesmente suicida. Beauvois foca sua narrativa em pequenos atos cotidianos, em discussões sutis e angustiantes, em diálogos reveladores. A violência, que é um elemento latente em toda trama, manifesta-se de forma explícita em poucas cenas, mas sempre com impacto, evitando banalizações. É fascinante que a serenidade e estoicismo dos religiosos frente à tragédia que se aproxima se relaciona com uma atmosfera de beatitude que impregna boa parte das tomadas de “Homens e Deuses”, do detalhismo preciosista das missas até o registro simples dos atos corriqueiros da rotina dos personagens. E a última refeição conjunta dos monges antes de serem seqüestrados é uma seqüência antológica no sentido de se extrair emoção diante de poucos, mas expressivos, elementos cênicos.

Nenhum comentário: