É claro que existem aqueles que vão dizer que “O Sequestro de Um Herói” (2009) não seria apenas um “simples filme policial” (como se o fato de pertencer a um gênero cinematográfico específico fosse alguma ofensa...). Afinal, a partir da premissa de uma trama sobre a captura e cativeiro de um grande (e um tanto picareta) empresário, o diretor Lucas Belvaux estabelece um panorama sobre a teia de hipocrisias que ronda a vítima (família, colegas, amigos) – no final das contas, parece que o único que se importa com ele é o seu cachorro! E nisso o cineasta realmente é muito bem sucedido, desmascarando com sutileza e acidez alguns conceito tão caros à sociedade ocidental contemporânea. O que torna, entretanto, o filme de Belvaux também uma obra memorável é a forma precisa com que ele manipula os preceitos básicos da ação cinematográfica. A sequência de abertura de “O Sequestro de Um Herói” é exemplar nesse sentido: com enquadramentos de movimentos discretos e uma montagem de cortes suaves, traça-se em poucos minutos a rotina do protagonista Stanislas Graff (Yvan Attal) de reuniões de trabalho, momentos com a família, encontros com a amante e jogatinas dispendiosas, marcando-se assim um breve e real retrato de sua personalidade. Belvaux se revela um tremendo detalhista – no processo do sequestro, na caracterização do cativeiro, nas várias discussões para decidir pelo pagamento ou não do resgate, nas estratégias e ações da polícia para resolver o caso – nenhuma nuance parece escapar daquilo que se assiste na tela, o que torna a narrativa cada vez mais tensa no seu desdobrar. Assim, mesmo quem não se importar com as complexas implicações humanas da trama poderá se impressionar com o bem delineado aspecto formal de “O Sequestro de Um Herói”, o que ajuda a confirmar a França como um dos melhores celeiros contemporâneos de produções no gênero policial.
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