O principal ponto que joga contra “A luz do Tom” (2013) é
que se trata na verdade de um filme institucional (o que os créditos iniciais
revelam logo de cara). Assim, trata-se de uma grande loa à figura de Tom Jobim,
não havendo espaço para contradições e nem para um maior aprofundamento dramático.
Sua formatação asséptica também atrapalha, com uma direção de fotografia estilo
cartão postal emoldurando a narrativa. Dentro dessa concepção utra comportada,
talvez o momento mais constrangedor seja aquele em que Helena Jobim fica
respondendo perguntas óbvias (“Tom era muito namorador?” e daí para baixo) de
um grupo de jovens em estado catatônico. Por outro lado, dá até para estranhar
um documentário sobre música brasileira em que não estejam presentes os
onipresentes Tarik de Souza, Ricardo Cravo Albim e Nelson Motta. Mas esse dado
insólito acaba se perdendo no fato de que o filme se concentra exclusivamente
nas entrevistas com a irmã Helena, a ex-mulher Thereza e a viúva Ana Lontra,
cujos principais focos são algumas informações biográficas protocolares, além
de historinhas prosaicas. Podem servir como curiosidade, mas não dão a dimensão
real da grandeza do artista. Apesar dessas previsibilidades, não há como não se
perguntar por que o diretor Nelson Pereira dos Santos travestiu Helena como uma
espécie de sósia de Tom, o que aliado a sua forma de falar literária, como se
tivesse decorado os trechos da biografia de Tom escrito por ela, traz um
estranho efeito estético.
Apesar dos equívocos aqui apontados, confesso que não
consigo dizer que “A luz do Tom” é uma obra dispensável. Isso porque a produção
traz a grande vantagem de vir embalada com algumas das mais belas pérolas do
cancioneiro jobiniano. Tanto que logo que terminou o filme, me de uma vontade
danada de chegar em casa para ouvir os discos do cara. E talvez não fosse essa a
grande intenção do filme?
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