Há pelo menos dois bons motivos para se assistir a “O voo”
(2012). O primeiro seria a sequencia do acidente de avião, logo no início do
filme, um exercício notável cinematográfico de técnica e efeitos aliado a uma
atmosfera poderosa de tensão. E o outro fator de atrativo para a obra seria o
desempenho de Denzel Washington, numa atuação dramática que concilia com precisão
carisma e intensidade. É de se considerar positivamente também nessa obra mais
recente do diretor Robert Zemeckis um inquietante clima de ambiguidade moral a
abordar temas polêmicos como culpa e uso de drogas. A abordagem formal de
Zemeckis chama atenção, principalmente pela dinâmica bem executada de planos e
enquadramentos que dão uma ambientação um tanto sufocante ao filme. Nesse
sentido, a edição do filme reforça essa sensação, principalmente na forma com
que encaixa a excelente trilha cancioneira roqueira nas cenas, configurando por
vezes uma narrativa vertiginosa impregnada de hedonismo e tentativas de expiação.
Todo esse panorama contraditório de “O voo” acaba esvaziado, entretanto, quando
o roteiro envereda no seu final para uma conclusão moralista e estapafúrdia,
revelando uma incômoda falta de sintonia com toda a proposta estético-formal
que o filme havia usado como base.
Um comentário:
Se o filme como um todo não funciona, pelo menos o desempenho dele e mais a cena do avião (espetacular), já compensa.
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