É claro que se pode implicar com Pedro Bial por apresentar o
Big Brother ou por escrever uma biografia chapa branca do patrão Roberto
Marinho, além de outros projetos questionáveis. Por outro lado, pode-se dar um
crédito para ele depois de se assistir a “Jorge Mautner – O filho do holocausto”
(2012). No meio de tantos documentários nacionais que se dedicam a cinebiografar
figuras ligadas à música, esse filme co-dirigido por Bial e Heitor D’Alincourt
surpreende por uma abordagem peculiar, apesar de utilizar alguns preceitos
caros ao gênero. Estão lá os tradicionais depoimentos e imagens de arquivo, mas
isso apenas pontua uma visão muito lírica por parte de seus autores em relação
ao seu protagonista – na verdade, até dá para
dizer que se encontra em sintonia artística com o próprio universo cultural de
Mautner. A música dele é o centro da narrativa – não à toa, a produção é
pontuada por números musicais, que abarcam um espectro amplo do cancioneiro de
Mautner que se relaciona sutilmente com a trajetória do artista que se
desenvolve na tela através de imagens e entrevistas. Tais números musicais,
tendo Mautner acompanhado pelo velho companheiro Nelson Jacobina e alguns músicos
da Orquestra Imperial, recebem um tratamento formal que oscila entre o teatral
e o sóbrio. Essa opção dos diretores revela que a preferência deles não é pela
objetividade, mas sim pela percepção de mundo mui peculiar de Mautner. Assim,
em determinadas seqüências, quem conduz a narrativa é o poeta/cantor em questão,
que lê num tom dramático passagens expressivas de sua autobiografia. O efeito
sensorial é de estranhamento e encanto.
Lembro que ao comentar no blog sobre o documentário “Tropicália”
(2012) eu mencionava a capacidade de Caetano Veloso em ser um convincente ator de
si mesmo. Isso também me veio à lembrança ao assistir a “Jorge Mautner”, não só
pela participação de Veloso (junto com Gilberto Gil), mas também pelo fato de
que Mautner conservar uma aura de mistério, mesmo que revele alguns fatos de
suas vidas. É como se o essencial ele ainda escondesse, estimulando o
espectador a encontrar essa verdade na sua arte. E talvez aquele seu choro no
final, aparentemente redentor, talvez esconda outros motivos obscuros e
fascinantes.
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