quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Jorge Mautner - O filho do Holocausto, de Pedro Bial e Heitor D'Alincourt ***1/2



É claro que se pode implicar com Pedro Bial por apresentar o Big Brother ou por escrever uma biografia chapa branca do patrão Roberto Marinho, além de outros projetos questionáveis. Por outro lado, pode-se dar um crédito para ele depois de se assistir a “Jorge Mautner – O filho do holocausto” (2012). No meio de tantos documentários nacionais que se dedicam a cinebiografar figuras ligadas à música, esse filme co-dirigido por Bial e Heitor D’Alincourt surpreende por uma abordagem peculiar, apesar de utilizar alguns preceitos caros ao gênero. Estão lá os tradicionais depoimentos e imagens de arquivo, mas isso apenas pontua uma visão muito lírica por parte de seus autores em relação ao seu protagonista – na verdade, até dá para dizer que se encontra em sintonia artística com o próprio universo cultural de Mautner. A música dele é o centro da narrativa – não à toa, a produção é pontuada por números musicais, que abarcam um espectro amplo do cancioneiro de Mautner que se relaciona sutilmente com a trajetória do artista que se desenvolve na tela através de imagens e entrevistas. Tais números musicais, tendo Mautner acompanhado pelo velho companheiro Nelson Jacobina e alguns músicos da Orquestra Imperial, recebem um tratamento formal que oscila entre o teatral e o sóbrio. Essa opção dos diretores revela que a preferência deles não é pela objetividade, mas sim pela percepção de mundo mui peculiar de Mautner. Assim, em determinadas seqüências, quem conduz a narrativa é o poeta/cantor em questão, que lê num tom dramático passagens expressivas de sua autobiografia. O efeito sensorial é de estranhamento e encanto.

Lembro que ao comentar no blog sobre o documentário “Tropicália” (2012) eu mencionava a capacidade de Caetano Veloso em ser um convincente ator de si mesmo. Isso também me veio à lembrança ao assistir a “Jorge Mautner”, não só pela participação de Veloso (junto com Gilberto Gil), mas também pelo fato de que Mautner conservar uma aura de mistério, mesmo que revele alguns fatos de suas vidas. É como se o essencial ele ainda escondesse, estimulando o espectador a encontrar essa verdade na sua arte. E talvez aquele seu choro no final, aparentemente redentor, talvez esconda outros motivos obscuros e fascinantes.

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