sexta-feira, maio 02, 2014

A família de Elizabeth Teixeira, de Eduardo Coutinho ***1/2

O diretor Eduardo Coutinho havia criado um universo tão particular dentro do gênero documentário que podia se dar ao luxo de até fazer continuações de seus filmes sem parecer oportunista. Esse é justamente o caso de “A família de Elizabeth Teixeira” (2014), obra que dá sequência natural aos fatos narrados no clássico “Cabra marcado para morrer” (1984). No filme mais recente, o cineasta mostra o que aconteceu com a protagonista da obra anterior, Elizabeth, e os seus filhos. Um dos grandes talentos de Coutinho como documentarista era conseguir a partir de pequenos retratos intimistas fazer uma amostragem lúcida e profunda das contradições e dilemas da sociedade brasileira. Na obra em questão, tal capacidade se aflora com intensidade – ao mesmo tempo que a trajetória pessoal de cada um dos indivíduos focados comove pelo alto grau de espontaneidade e crueza que o diretor extrai de seus entrevistados, tais depoimentos também são reveladores das raízes de exploração econômica e injustiça social entranhadas na essência do Brasil. O documentário também evidencia como o próprio Coutinho cada vez mais ia se tornando um personagem atuante dentro de seus próprios filmes, interagindo com as demais figuras em cena, mas sem em nenhum momento soar forçado ou egocêntrico. É como se o forte caráter humanista de sua abordagem exigisse sua presença física no enquadramento para complementar o sentido existencial de seus filmes.


Comentários afirmam que antes de morrer Coutinho já tinha deixado filmada uma nova obra, com tal produção se encontrando na fase de montagem. Mesmo assim, dá para dizer que “A família de Elizabeth Teixeira” é um contundente canto do cisne de um dos maiores diretores da história do cinema brasileiro.

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