A forma com que a abordagem pessoal e intimista se relaciona
com o aspecto social-político é o ponto mais interessante da produção
venezuelana “Pelo malo” (2013). Na trama de um garoto que quer alisar o cabelo
para tirar uma foto familiar e é acossado pela mãe que teme que ele seja
homossexual, o que faz com que o filme tenha uma atmosfera de tensão surda
constante, a diretora acaba fazendo também um retrato marcado pela crueza do
machismo e preconceito típicos de uma sociedade patriarcal latino-americana, além
de configurar um retrato emblemático da Venezuela, país divido por conflitos
ideológicos de classe e criminalidade violenta exacerbada. Por outro lado, é de
se admitir que a visão sociológica da cineasta acaba se revelando mais
contundente que o tratamento formal de sua obra – Rondon se mantém presa a uma
estética tão árida que “Pelo malo” acaba não apresentando algum momento visual
especialmente memorável. Ou seja, pode-se ficar intrigado pelo seu discurso,
mas como cinema dificilmente permanecerá no imaginário do espectador.
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