Aqueles que conhecem e admiram o cineasta tcheco Milos
Forman por suas produções norte-americanas como “Um estranho no ninho” (1975) e
“O povo contra Larry Flint” (1996) poderão ter uma considerável surpresa ao
assistirem aos longas que ele dirigiu no seu país de origem na década de 1960. Ao
invés daqueles dramas pesados e contundentes, há crônicas irônicas sobre o
cotidiano, de viés agridoce. “Pedro, o negro” (1963) é bastante emblemático de
tal tendência nessa fase da carreira de Forman. Ao narrar pequenos fatos
rotineiros da vida do protagonista adolescente Pedro (Ladislav Jakim), o filme
nos faz lembrar a saga juvenil dos primeiros capítulos da trajetória do alter
ego de François Truffaut, Antoine Doinel, tanto pela leveza e fluidez da
encenação concebida por Forman quanto pela natural alternância de atmosferas
dramáticas entre a melancolia e a comicidade. A combinação de filmagem e edição
da produção aparenta um caráter de casualidade, como se Forman buscasse um
registro que evocasse o documental, e que acaba ganhando um efeito encantador
pela empatia que causa. Essa sugestão de aleatoriedade na verdade revela o notável
senso de rigor estético que num primeiro momento pode parecer imperceptível,
mas que se revela como marca indelével de um diretor que domina com sabedoria a
narrativa cinematográfica.
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