Confesso que tenho um bode com o cinema argentino dos últimos
anos, pois considero que em sua grande maioria são produções convencionais ao
extremo e muito dependentes de um roteiro redondinho. Praticamente não há espaços
para maiores inventividades visuais ou narrativas. Talvez o próprio “O segredo
dos seus olhos” (2009), bom mas superestimado, considerado o supra sumo da
cinematografia porteña recente, seja um exemplo claro dessa tendência. Talvez
por isso “Viola” (2012) tenha sido tão impactante para mim. A trama na qual se
pauta o filme parece ter um tom quase aleatório, centrada nos ensaios de uma peça
teatral que envolve a encenação de vários trechos de obras diversas de
Shakespeare. Nos intervalos, as atrizes e alguns de seus conhecidos se envolvem
em discretas intrigas sentimentais. A partir dessa premissa pouco usual, o
diretor Matias Piñeiro centra fogo na criação de uma atmosfera lúdica e
intrigante, baseada na repetição de diálogos, na valorização de olhares
sinuosos de suas personagens e num clima de casualidade que beira o documental.
Sua forma de filmar evoca maneirismos libertários, principalmente numa câmera
que dá a impressão de desobedecer de maneira constante alguns padrões formais (é
intrigante quando o enquadramento não está focado em quem está falando, mas na
expressão de quem está ouvindo), mas o que se revela é um tremendo rigor estético
para manter a coesão narrativa e a beleza textual de um roteiro repleto de diálogos
lapidares.
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