A situação social e política do Tchecoslováquia da segunda
metade dos anos 1960 é fator determinante para se entender as metáforas e
simbologias que grassam à vontade na narrativa de “A festa e os convidados”
(1966). Mas o alcance temático e sensorial desse estranho filme não é
delimitado a um único aspecto regional e temporal. O diretor Jan Nemec consegue
estabelecer um espectro universal para a sua obra. Para isso, serve-se de uma
encenação bastante livre e anti-naturalista, em que os fatos se sucedem dentro
de uma lógica muito particular, namorando fortemente o surrealismo. Aliás, a
festa em que convidados são tratados como prisioneiros nos faz lembrar tanto episódios
delirantes semelhantes em “O anjo exterminador” (1966) e “O discreto charme da
burguesia” (1972), ambos da lavra de Luis Buñuel, mestre do onirismo cinematográfico,
como os escritos de Kafka sobre os absurdos de uma sociedade sob jugo de
incompreensíveis desmandos estatais. A atmosfera opressiva e obscura constante
de “A festa e os convidados” reforça o clima de pesadelo a se associar com os
ventos autoritários que sopravam no seu país de origem, mas também servem como
ilustração para a presença de um Estado tirânico que pode se manifestar em
qualquer lugar do planeta.
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