Como já foi comentado em textos anteriores deste blog, o
cinema tcheco dos anos 1960 apresentava em algumas de suas principais obras um
caráter bastante metafórico, em que o formalismo e o conteúdo de seus roteiros
carregavam forte conotação simbolista para retratar as contradições e dilemas sócio-políticos
que marcavam o país na época. “Valerie e sua semana de deslumbramento” (1970)
também apresenta tal conotação – sua trama fabular traz referências que remetem
a “Alice nos país das maravilhas” e lendas afins, histórias essas que sempre
evocam questões sobre sexualidade reprimida ou prestes a florescer,
relacionando ainda ao tema da perda da inocência. A ligação com o momento histórico
de uma nação que se encontra envolta pela bruma opressiva de um autoritarismo
castrador é evidente, mas tal relação é apresentada de forma sutil e delicada. A
estética concebida pelo diretor Jaromil Jires é encantadora, com fotografia,
direção de arte e edição construindo uma atmosfera onírica e libertária,
conectando também o filme com uma tendência que era forte no cinema europeu
daquela época, em que o fantástico e o erótico apresentavam uma intrínseca ligação
(vide a obra de outros cineastas bastante ativos no período como Jean Rollin e
Mario Bava).
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