quarta-feira, maio 07, 2014

Coragem de todo dia, de Evald Schorm ***1/2

É natural que em uma cinematografia que pareça insólita como a tcheca o espectador busque uma referência dentro de um padrão mais conhecido. No caso em questão, o cinema sessentista tcheco apresentava uma conexão mais direta com boa parte da cultura de subversão inerente àquela época. Nesse sentido, “Coragem de todo dia” (1964) é um filme que se mostra em sintonia com um certo caráter existencialista que nos faz lembrar algumas produções emblemáticas de diretores como Michelangelo Antonioni e Louis Malle – no caso desse último, há um parentesco muito próximo em termos temáticos e de atmosfera com a obra-prima “30 anos esta noite” (1963). Também há aquele clima de rebeldia difusa e angustiada do clássico “Juventude transviada” (1955) e uma secura formal herdada do neo-realismo italiano. Apesar de tais semelhanças, entretanto, a obra do diretor Eval Schorm se sustenta pelas suas qualidades próprias. O diretor mantém de forma constante uma perturbadora tensão de uma ameaça invisível (no caso em tela, da presença opressiva de um Estado totalitário), em que a revolta social se confunde com o desespero intimista do protagonista. A condução da narrativa é marcada pela sobriedade, assim como a abordagem emocional é um tanto distanciada, dando ao filme um ar desolado e perturbador.

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