É natural que em uma cinematografia que pareça insólita como
a tcheca o espectador busque uma referência dentro de um padrão mais conhecido.
No caso em questão, o cinema sessentista tcheco apresentava uma conexão mais
direta com boa parte da cultura de subversão inerente àquela época. Nesse
sentido, “Coragem de todo dia” (1964) é um filme que se mostra em sintonia com
um certo caráter existencialista que nos faz lembrar algumas produções emblemáticas
de diretores como Michelangelo Antonioni e Louis Malle – no caso desse último, há
um parentesco muito próximo em termos temáticos e de atmosfera com a obra-prima
“30 anos esta noite” (1963). Também há aquele clima de rebeldia difusa e
angustiada do clássico “Juventude transviada” (1955) e uma secura formal
herdada do neo-realismo italiano. Apesar de tais semelhanças, entretanto, a
obra do diretor Eval Schorm se sustenta pelas suas qualidades próprias. O
diretor mantém de forma constante uma perturbadora tensão de uma ameaça invisível
(no caso em tela, da presença opressiva de um Estado totalitário), em que a
revolta social se confunde com o desespero intimista do protagonista. A condução
da narrativa é marcada pela sobriedade, assim como a abordagem emocional é um
tanto distanciada, dando ao filme um ar desolado e perturbador.
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