O ato de escrever carrega por
vezes um caráter ambíguo – ao mesmo tempo que é uma necessidade para aquele que
redige o texto, também apresenta um certo sofrimento, no sentido de saber
escolher a palavra certa, de conseguir atingir o sentido exato por escrito daquilo
que se pensa. Essa relação conflitiva fica evidente na trama, baseada em fatos
reais, de “O palácio francês” (2012), em que um jovem diplomata se torna
responsável pela elaboração dos discursos de um ministro das relações
exteriores da França. As discussões sobre conteúdo e estética entre os dois
personagens são saborosas pelo grau de ironia e cultura que exalam. Além disso,
os debates sobre filosofia, política e estilização também se mostram como
reflexos dos próprios dilemas sociais, econômicos e políticos que envolvem a
rotina do gabinete do ministro. Assim, a obra de Bertrand Tavernier se mostra
um trabalho bastante interessante tanto na forma com que a conjugação entre o
textual/literário e a encenação cinematográfica se efetiva como no retrato das
relações sócio-políticas no mundo contemporâneo. O filme frustra por vezes pela
narrativa superficial, típica de comédia ligeira, ao tratar de questões
complexas, mas mesmo assim é uma produção que evidencia ainda muito da elegância
no filmar de um cineasta tarimbado como Tavernier.
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