quarta-feira, junho 18, 2014

O palácio francês, de Bertrand Tavernier ***


O ato de escrever carrega por vezes um caráter ambíguo – ao mesmo tempo que é uma necessidade para aquele que redige o texto, também apresenta um certo sofrimento, no sentido de saber escolher a palavra certa, de conseguir atingir o sentido exato por escrito daquilo que se pensa. Essa relação conflitiva fica evidente na trama, baseada em fatos reais, de “O palácio francês” (2012), em que um jovem diplomata se torna responsável pela elaboração dos discursos de um ministro das relações exteriores da França. As discussões sobre conteúdo e estética entre os dois personagens são saborosas pelo grau de ironia e cultura que exalam. Além disso, os debates sobre filosofia, política e estilização também se mostram como reflexos dos próprios dilemas sociais, econômicos e políticos que envolvem a rotina do gabinete do ministro. Assim, a obra de Bertrand Tavernier se mostra um trabalho bastante interessante tanto na forma com que a conjugação entre o textual/literário e a encenação cinematográfica se efetiva como no retrato das relações sócio-políticas no mundo contemporâneo. O filme frustra por vezes pela narrativa superficial, típica de comédia ligeira, ao tratar de questões complexas, mas mesmo assim é uma produção que evidencia ainda muito da elegância no filmar de um cineasta tarimbado como Tavernier.

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