Dentro da mitologia nos quadrinhos dos X-Men, a saga “Dias
de um futuro esquecido” foi fundamental e marcante por diversas razões. Além de
ter sido a última história em conjunto da parceria Chris Claremont e John Byrne
(a mais importante equipe criativa que já passou pelas revistas dos heróis
mutantes), tal obra sintetizou de forma brilhante boa parte dos principais
dilemas dramáticos que marcaram as tramas dos personagens e também delineou
também algumas das temáticas que se tornaram bastante recorrentes não só para
os X-Men, mas também para todo o Universo Marvel, principalmente no que diz
respeito à questão das viagens no tempo. Dessa forma, acaba sendo uma surpresa
bastante agradável assistir ao filme “X-Men: Dias de um futuro esquecido”
(2014) e constatar a forma notável como o diretor Bryan Singer conseguiu
preservar os elementos mais essenciais da trama original e concebeu uma obra de
alcance universal, capaz de satisfazer tanto aos velhos admiradores dos gibis
quanto aos neófitos que não conhecem os meandros infindáveis da cronologia dos
quadrinhos. Para isso, Singer contou com um roteiro enxuto, em que não há um número
excessivo de personagens em cena, o que permite desenvolver melhor a psicologia
de cada um deles, e uma trama muito bem definida e que não se expande para
muitas histórias paralelas. E não dá para deixar de creditar a tremenda bola
dentro do roteiro com a sua solução final: o que poderia soar forçado e
oportunista num primeiro momento acaba se revelando uma tremenda sacada que
resolve algumas escolhas equivocadas de “X-Men 3: O confronto final” (2006). O
cineasta também consegue conciliar com eficiência os tempos narrativos
(presente e passado), além de estabelecer uma constante e perturbadora
atmosfera sombria, fundamental na caracterização de um planeta à beira do
apocalipse. E o que poderia parecer uma opção arriscada de investir numa
narrativa que se concentra mais na interação dos personagens do que nas cenas
de ação e nos efeitos especiais acaba se revelando mais do que acertada, dando
uma dimensão dramática ainda maior ao filme. Isso fica evidente, por exemplo,
no belo diálogo final entre as versões veteranas do Professor X (Patrick
Stewart) e Magneto (Ian McKellen), um belo texto que resume com sensibilidade
os conflitos existenciais que marcaram os X-Men desde a sua criação no início
dos anos 60.
Um comentário:
O final foi definitivamente uma lavada na alma
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