sexta-feira, junho 20, 2014

Praia do futuro, de Karin Aïnouz ***1/2


Depois do claudicante “O abismo prateado” (2011), é animador ver o diretor Karin Aïnouz retomando em “Praia do futuro” (2014) a pegada vigorosa de obras como “Madama Satã” (2001) e “O céu de Suely” (2006). Nesse seu filme mais recente, o cineasta constrói uma obra de atmosfera rarefeita, algo como se fosse um épico existencial. As ações de suas criaturas são nebulosas, indecisas, mas sempre de impacto emocional contundente. Aïnouz não parece interessado em explicar a psicologia dos personagens – a caracterização pessoal deles está lá, meio escondida, e o que os torna fascinantes é justamente a imprecisão de suas motivações. Mas se a abordagem intimista é marcada por esse tom de indefinição, o formalismo de “Praia do futuro” é tomado por um senso de virtuosismo cinematográfico admirável, a começar pela antológica abertura de uma alucinada corrida de motos no meio de dunas nordestinas ao som do rock anfetamínico “Ghost Rider” do Suicide. Tanto a direção de fotografia quanto a edição privilegiam um olhar sensorial – poucas vezes tomadas aquáticas passaram uma gama tão variada de sentimentos e sensações (angústia, paz, erotismo, morte). As fortes cenas de sexo também fogem bastante daquele trivial que se convencionou no cinema contemporâneo – a intensidade do enlace dos corpos de Donato (Wagner Moura) e Konrad (Clemens Schick) representa o embate de sentimentos contraditórios entre os amantes. Essa ambiguidade nos confrontos pessoais é a síntese virulenta de “A praia do futuro” dessa conjunção de estética a flor-da-pele com um conteúdo temático de forte teor humanista.

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