O grande mote da narrativa de “Almas silenciosas” (2010) é o
contraponto dos extremos. Se num primeiro momento as concepções estética e temática
dessa produção russa denotam um viés realista, com o a avançar da trama passam
a surgir alguns toques metafísicos. Isso porque a história contida no roteiro
alude a um confronto entre o cotidiano melancólico e cinzento dos personagens
de um vilarejo russo com as suas tradições envolvendo estranhos rituais e
particulares misticismos distantes dos padrões morais das religiões cristãs
ocidentais. Nesse sentido, novamente a ideia da contradição se evidencia, em
que elementos tecnológicos da rotina normal de indivíduos contemporâneos
(computadores, celulares) convivem dentro de um ambiente bastante marcado por
costumes centenários e atavismos. Por mais que esses seres estejam inseridos
numa sociedade ocidental de valores pequeno-burgueses, eles trazem dentro de si
uma espécie de herança telúrica, cuja ligação com a natureza e os seus próprios
instintos é praticamente inerente às suas condições existenciais. O contexto
narrativo de “Almas silenciosas” vai se tornando cada vez mais difuso e enigmático,
fazendo com que as ações de seus personagens carreguem um sentido simbolista de
fortes tons poéticos. Nessa lógica, erotismo e morbidez se confundem de maneira
perturbadora, mas também notavelmente coerente, gerando assim uma obra de
extraordinário encanto sensorial.
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