quinta-feira, julho 09, 2015

Almas silenciosas, de Aleksei Fedorchenko ***1/2


O grande mote da narrativa de “Almas silenciosas” (2010) é o contraponto dos extremos. Se num primeiro momento as concepções estética e temática dessa produção russa denotam um viés realista, com o a avançar da trama passam a surgir alguns toques metafísicos. Isso porque a história contida no roteiro alude a um confronto entre o cotidiano melancólico e cinzento dos personagens de um vilarejo russo com as suas tradições envolvendo estranhos rituais e particulares misticismos distantes dos padrões morais das religiões cristãs ocidentais. Nesse sentido, novamente a ideia da contradição se evidencia, em que elementos tecnológicos da rotina normal de indivíduos contemporâneos (computadores, celulares) convivem dentro de um ambiente bastante marcado por costumes centenários e atavismos. Por mais que esses seres estejam inseridos numa sociedade ocidental de valores pequeno-burgueses, eles trazem dentro de si uma espécie de herança telúrica, cuja ligação com a natureza e os seus próprios instintos é praticamente inerente às suas condições existenciais. O contexto narrativo de “Almas silenciosas” vai se tornando cada vez mais difuso e enigmático, fazendo com que as ações de seus personagens carreguem um sentido simbolista de fortes tons poéticos. Nessa lógica, erotismo e morbidez se confundem de maneira perturbadora, mas também notavelmente coerente, gerando assim uma obra de extraordinário encanto sensorial.

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