É bem curioso o fato de que em um espaço de quatro anos o
estilista Yves Saint-Lauren tenha merecido três cinebiografias. Dá até para
dizer que o documentário “O louco amor de Yves Saint Lauren” (2010) e “Yves
Saint Lauren” (2014) se confundem na abordagem comportada e cronológica, de
discreto tom melodramático, que fazem sobre a vida de seu protagonista. Em
termos de efetiva relevância estética e temática, contudo, a pegada é bem mais
forte nesse “Saint Lauren”. O diretor Bertrand Bonello preserva o seu estilo
rarefeito e refinado que havia deixado aflorar com contundência no extraordinário
“L’Apollonide – Os amores da casa de tolerância” (2011). A obra não se preocupa
apenas na recriação de fatos reais marcantes na vida do artista, mas também é
bastante voltada na recriação da ambientação sensorial que circundava a figura
de Saint Lauren (Gaspard Ulliel). Nesse sentido, fica evidente uma atmosfera de
hedonismo e lassidão que envolve o cotidiano de seu principal personagem que se
choca de forma contraditória com as reuniões de negócios do amante/sócio Pierre
Bergé (Jérémie Renier) para defender os interesses da grife de ambos. Ao contrário
dos filmes mencionados antes sobre Saint Lauren, a obra de Bonello não se
vincula a uma visão romântica e sentimental dos romances e conquistas de seu
protagonista. Prevalece uma certa frieza na caracterização de situações e
personagens, o que reforça ainda mais o caráter de estilização da produção. Os
trabalhos de direção de fotografia e de edição são primorosos, configurando um
audiovisual hipnótico e perturbador. De lambuja, dá até para dizer que é um dos
grandes filmes rock and roll dos últimos tempos (só as sequências embaladas por
canções de Velvet Underground e Creedence Clearwater Revival já valeriam o
ingresso/locação).
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