quinta-feira, julho 16, 2015

Saint Laurent, de Bertrand Bonello ****


É bem curioso o fato de que em um espaço de quatro anos o estilista Yves Saint-Lauren tenha merecido três cinebiografias. Dá até para dizer que o documentário “O louco amor de Yves Saint Lauren” (2010) e “Yves Saint Lauren” (2014) se confundem na abordagem comportada e cronológica, de discreto tom melodramático, que fazem sobre a vida de seu protagonista. Em termos de efetiva relevância estética e temática, contudo, a pegada é bem mais forte nesse “Saint Lauren”. O diretor Bertrand Bonello preserva o seu estilo rarefeito e refinado que havia deixado aflorar com contundência no extraordinário “L’Apollonide – Os amores da casa de tolerância” (2011). A obra não se preocupa apenas na recriação de fatos reais marcantes na vida do artista, mas também é bastante voltada na recriação da ambientação sensorial que circundava a figura de Saint Lauren (Gaspard Ulliel). Nesse sentido, fica evidente uma atmosfera de hedonismo e lassidão que envolve o cotidiano de seu principal personagem que se choca de forma contraditória com as reuniões de negócios do amante/sócio Pierre Bergé (Jérémie Renier) para defender os interesses da grife de ambos. Ao contrário dos filmes mencionados antes sobre Saint Lauren, a obra de Bonello não se vincula a uma visão romântica e sentimental dos romances e conquistas de seu protagonista. Prevalece uma certa frieza na caracterização de situações e personagens, o que reforça ainda mais o caráter de estilização da produção. Os trabalhos de direção de fotografia e de edição são primorosos, configurando um audiovisual hipnótico e perturbador. De lambuja, dá até para dizer que é um dos grandes filmes rock and roll dos últimos tempos (só as sequências embaladas por canções de Velvet Underground e Creedence Clearwater Revival já valeriam o ingresso/locação).

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