É bem provável que aqueles que se admiraram com a encenação contundente
e a ironia perversa de “Reis e rainha” (2004) e “Um conto de natal” (2008), os
ótimos filmes anteriores do diretor francês Arnaud Desplechin, irão se
decepcionar com “Terapia intensiva” (2013), a estreia de Desplechin numa
produção norte-americana. A premissa da trama dessa obra mais recente, baseada
em fatos reais, é até bem interessante, mostrando a relação entre um traumatizado
índio veterano de guerra (Benicio Del Toro) e o psicanalista francês (Mathieu
Amalric) de abordagem não-ortodoxa responsável pelo seu tratamento. O roteiro
apresenta nuances psicológicas e intimistas amadurecidas e que fogem das
obviedades. O que incomoda, entretanto, é que o filme peca justamente naquilo
que os trabalhos franceses de Desplechin tinham de melhor – narrativa e
encenação. O diretor adota um incômodo tom solene na forma com que conduz a
história, quase como se fosse uma espécie de literatura filmada. Faltou vigor
na forma com que as situações e personagens são caracterizados. Mesmo atores
diferenciados como Del Toro e Amalric se congelam em composições dramáticas
opacas, como se estivessem contaminados pela falta de criatividade e entusiasmo
que perpassa a atmosfera de “Terapia intensiva”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário