O modus operandi do diretor Ira Sachs é simples e eficiente
nas suas intenções e resultados. Na superfície, seus filmes enveredam pela
estrutura do melodrama tradicional. Com o desenvolver da narrativa, toques irônicos
e por vezes até perversos configuram contundentes e amargos contos morais. Tal
estilo particular se cristalizou de forma bastante consistente em “Deixe a luz
acesa” (2012) e “O amor é estranho” (2014). Em “Vida de casado” (2007), um de
seus primeiros trabalhos, ele já insinuava de forma expressiva suas concepções
artísticas. O roteiro estabelece alguns motes básicos e aparentemente até
banais, centrando a trama em temas típicos como insatisfação matrimonial e
traições conjugais. São em sutis e desconcertantes detalhes, entretanto, que
essa produção se diferencia. Sachs opta por atmosfera e formalismo que evocam
uma estilização entre o nostálgico e o sensual. Nesse sentido, o trabalho de
direção de arte valoriza de maneira minuciosa o imaginário que se tem sobre os
anos 50. Essa estética é a moldura mais que adequada para os conflitos e
dilemas morais que rondam a trama, uma espécie de inventário das hipocrisias
sexuais e sentimentais da classe média norte-americana na época. Sachs se
permite algumas ousadias desconcertantes nas soluções de sua história, em que
cenas habituais de descaminhos amorosos convivem naturalmente com preceitos do
gênero suspense, fazendo de “Vida de casado” uma engenhosa crônicas de costumes
da sociedade ocidental.
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