Na obra-prima “Sangue negro” (2007), o diretor Paul Thomas
Anderson focava a sua narrativa na exposição crua e sem concessões de um indivíduo
mesquinho e antissocial, mostrando que sua misantropia revelava diversos traços
de comportamentos inerentes à condição humana. Não havia redenção ou alguma espécie
de transcendência epifânica para o protagonista Daniel Plainview (Daniel
Day-Lewis em um trabalho de composição dramática que mais parecia uma possessão).
Em “Meu verão na Provença” (2014), a trama também é centrada em um indivíduo
bronco e com dificuldades de se relacionar com as pessoas, principalmente com a
filha e os netos. Parte dessa personalidade pode se atribuir à sua atividade de
fazendeiro – é como se a rudeza de sua atividade acabasse se refletindo na sua
vivência social. A diferença entre a obra de Anderson e essa produção mais
recente da cineasta de Rose Bosch, entretanto, é uma escancarada e abissal
profundidade artística: enquanto “Sangue negro” é uma obra de grande rigor estético
e temático, “Meu verão na Provença” é destituída de uma abordagem mais
consistente. É possível dar um desconto para a competente fotografia, que
valoriza bastante as belas paisagens campestres em que se desenvolve a sua história.
Fora disso, é uma narrativa trôpega e banal, cuja encenação se baseia em clichês
superficiais e sem uma efetiva densidade dramática. A transformação do
carrancudo Paul (Jean Reno) em um senhor boa praça é apressada e artificial.
Bosch se apóia exclusivamente em melosos e simplórios clichês sentimentalóides
na resolução dos dilemas do roteiro. Elementos que poderiam configurar algumas
doses de contradição e questionamento (conflitos de geração, alcoolismo,
nostalgia em relação aos ideais dos anos 60) são esvaziados de interesse e tensão.
O resultado final é um filme anódino e pouco memorável dentro da sua irrelevância
formal e mesmo textual.
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