quarta-feira, julho 01, 2015

Rainha & país, de John Boorman ***1/2


É claro que “Rainhas & país” (2014) não se enquadra no mesmo nível artístico de obras-primas clássicas do cineasta britânico John Boorman como “Amargo pesadelo” (1972), “Excalibur” (1981) e “Esperança e glória” (1987) – essa última, por sinal, produção da qual essa mais recente é continuação natural. Ainda assim, é um trabalho de relevo, com o veterano diretor conduzindo sua narrativa com uma elegância formal notável. Assim como já havia feito no ótimo “O alfaiate do Panamá” (2001), Boorman se vale de um gênero tradicional, no caso o melodrama, e de elementos estéticos e temáticos que beiram o clichê para construir a sua narrativa. Encenação, enquadramentos e edição formam um conjunto marcado pela clareza audiovisual e ausência de maiores invencionices. Essa opção pela convencional, entretanto, não resulta em assepsia ou irrelevância. O grande barato do filme é justamente transcender a partir daquilo que é aparentemente óbvio e banal. Por trás de uma trama memorialista e de fortes tons românticos, há um subtexto contestador e repleto de fina ironia. Com sutileza, Boorman questiona a opressiva disciplina militar, o vazio da retórica nacionalista que incentiva guerras oportunistas, o moralismo familiar e até mesmo a alienação insensível do dito amor romântico. O processo de amadurecimento do protagonista Bill Rohan (Callum Turner) é mostrado de forma convincente e com consistente dimensão humanista. Assim, “Rainhas & país” se mostra muito além de ser uma mera sequência oportunista, reforçando o expressivo traço autoral da cinematografia de Boorman.

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