segunda-feira, julho 20, 2015

Tokyo-Ga, de Wim Wenders ****




Pode ser que se esteja forçando a barra, mas talvez uma das melhores maneiras de se entender “Tokyo-Ga” (1985) seja o encarar sob uma perspectiva histórica-política. De forma simples resumida, seria assim: Alemanha e Japão se associaram na Segunda Guerra Mundial ao fazerem parte do Eixo. Com a respectiva derrota militar desses últimos no conflito, os referidos países acabaram devastados em termos econômicos e infraestrutura. Seus reerguimentos como nação foram bastante dependentes de empréstimos e perdões de dívidas, sob o preço de terem recebido uma massiva influência cultural externa, principalmente dos Estados Unidos. Assim, a partir do final de década de 40, a discussão sobre a identidade nacional passou a ser frequente em boa parte da produção artística nipônica e germânica. Dentro dessa abordagem, dá para dizer que pelo menos dois cineastas foram fundamentais: Yasujiro Ozu e Wim Wenders. “Tokyo-Ga” versa justamente sobre a relação existencial e artística entre esses dois diretores.

Em um primeiro momento, a narrativa parte de uma premissa simples: Wenders se apresenta como admirador e discípulo indireto de Ozu, indo para o Japão em busca de uma maior compreensão do universo que circundava seu mestre. Afinal, quando o alemão conheceu os filmes de Ozu esse último já era falecido. Dentro desse conceito, Wenders faz o aparentemente previsível – conversa com pessoas que trabalharam com Ozu, visita locais onde ele filmou suas produções, exibe trechos de alguns dos mais importantes filmes do seu homenageado. Ocorre, entretanto, que Wenders encaixa esses elementos de uma forma muito particular, dentro de um sentido que extrapola a mera exposição cronológica de fatos. A preocupação é inserir tudo isso dentro de um conjunto de forte teor sensorial, como se Wenders quisesse emular a atmosfera e estilo típicos dos clássicos de Ozu, mas sob uma ótica “estrangeira”. Como complemento essencial dessa visão, “Tokyo-Ga” apresenta cenas da capital japonesa na época em que o documentário foi realizado (anos 80), indo do cotidiano até sequencias marcadas por uma certa bizarrice, confrontando o contemporâneo com a ótica pessoal de Ozu, cujo o conjunto de sua filmografia expressava a sua visão de uma série de tradições seculares se desintegrando de forma gradual e inexorável. Dentro dessa concepção insólita e poética de formatar o seu documentário, Wenders constrói um contundente trabalho impressionista e melancólico ao procurar traduzir para o espectador o ideário e a essência estética de um artista genial.

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