Em tempos das inovações tecnológicas em 3D de Avatar e do aperfeiçoamento das técnicas digitais da Pixar, Dreamworks e companhia, uma obra como "A Princesa e o Sapo" (2009) acaba tendo uma dimensão especial. Afinal, essa produção mais recente dos Estúdios Disney é legítima representante de uma animação mais convencional em termos formais, o que faz indagar se a mesma não estaria marcada pelo anacronismo.
A trama de "A Princesa e o Sapo" é basicamente simples e típica da Disney: uma bela mocinha humilde e muito trabalhadora beija um príncipe transformado em sapo e acaba virando uma “sapa”, sendo que os dois passam o restante do filme tentando voltar a sua condição humana e nesse processo acabam se apaixonando. O roteiro é bobo e divertido, mas quem se concentrar apenas na história dessa animação perderá a maior parte dos seus encantos.
O que chama logo atenção em "A Princesa e o Sapo" é a beleza do seu traço. Por mais que os métodos modernos de animação estejam avançados, os mesmos ainda não chegam aos pés do requinte estético dos bons desenhos tradicionais. Na obra em questão, isso fica explícito na expressiva caracterização dos personagens e na mágica e detalhista recriação da cidade de Nova Orleans e dos seus pântanos. Percebe-se ainda que há no filme uma espécie de inventário dos estilos já adotados pela Disney no decorrer de sua trajetória. Os contornos da dupla de protagonistas remetem ao que os estúdios adotam desde "A Pequena Sereia" (1989), mas os demais personagens coadjuvantes possuem uma maior estilização nas suas composições visuais, trazendo a mente outras obras como "Peter Pan" (1953), "A Dama e o Vagabundo" (1955) ou "Aristogatas" (1970).
"A Princesa e o Sapo" também traz algumas ousadias, há tempos ausente no universo da Disney. Para começar, a transposição da velha lenda da princesa que beija o sapo para um ambiente contemporâneo em Nova Orleans não é gratuita e nem subaproveitada. A cidade norte-americana sempre foi marcada por um forte misticismo e uma expressiva herança cultural. Os diretores John Musker e Ron Clements incorporam com sensibilidade esses fatores dentro da trama do filme. As canções e os números musicais são recheados pelos ritmos e melodias inebriantes da região – há muito jazz, blues, gospel e zydeco (uma espécie de blues afrancesado). Como não lembrar de "A Guerra dos Dálmatas" (1961) e "Mogli" (1967), também marcados por tais ritmos populares? Além disso, as climáticas seqüências finais se desenrolam justamente no Mardi Grass, o característico carnaval da cidade. Vale mencionar ainda que vilão Dr. Facilier é uma assustadora síntese de alguns preceitos do vodu (espécie de religião não oficial da região), invocando demônios e maléficas sombras para colocar em prática seus planos. Aliás, a Disney se arriscou ao fazer uma abordagem ambígua e sem muitos maniqueísmos da questão racial. Se a heroína Tiana é mostrada como uma decidida e valorosa afro-americana, o Dr. Facilier recebe um tratamento completamente diverso – malandro, insidioso e violento (chega a matar um dos mais carismáticos personagens do filme), certamente é um dos antagonistas mais cruéis a aparecer numa animação da Disney. O seu trágico fim, arrastado por seres monstruosos para um outra dimensão, é uma seqüência que é puro pesadelo.
Representando uma volta triunfal da Disney depois de alguns anos sem aparecer com uma animação de confecção própria, "A Princesa e o Sapo" evidencia também que as tecnologias mais recentes não representam necessariamente a extinção dos desenhos tradicionais. Afinal, que obra digital nesse ano ofereceu um espetáculo visual tão prazeroso quanto esse produto proveniente dos domínios do velho Walt??
A trama de "A Princesa e o Sapo" é basicamente simples e típica da Disney: uma bela mocinha humilde e muito trabalhadora beija um príncipe transformado em sapo e acaba virando uma “sapa”, sendo que os dois passam o restante do filme tentando voltar a sua condição humana e nesse processo acabam se apaixonando. O roteiro é bobo e divertido, mas quem se concentrar apenas na história dessa animação perderá a maior parte dos seus encantos.
O que chama logo atenção em "A Princesa e o Sapo" é a beleza do seu traço. Por mais que os métodos modernos de animação estejam avançados, os mesmos ainda não chegam aos pés do requinte estético dos bons desenhos tradicionais. Na obra em questão, isso fica explícito na expressiva caracterização dos personagens e na mágica e detalhista recriação da cidade de Nova Orleans e dos seus pântanos. Percebe-se ainda que há no filme uma espécie de inventário dos estilos já adotados pela Disney no decorrer de sua trajetória. Os contornos da dupla de protagonistas remetem ao que os estúdios adotam desde "A Pequena Sereia" (1989), mas os demais personagens coadjuvantes possuem uma maior estilização nas suas composições visuais, trazendo a mente outras obras como "Peter Pan" (1953), "A Dama e o Vagabundo" (1955) ou "Aristogatas" (1970).
"A Princesa e o Sapo" também traz algumas ousadias, há tempos ausente no universo da Disney. Para começar, a transposição da velha lenda da princesa que beija o sapo para um ambiente contemporâneo em Nova Orleans não é gratuita e nem subaproveitada. A cidade norte-americana sempre foi marcada por um forte misticismo e uma expressiva herança cultural. Os diretores John Musker e Ron Clements incorporam com sensibilidade esses fatores dentro da trama do filme. As canções e os números musicais são recheados pelos ritmos e melodias inebriantes da região – há muito jazz, blues, gospel e zydeco (uma espécie de blues afrancesado). Como não lembrar de "A Guerra dos Dálmatas" (1961) e "Mogli" (1967), também marcados por tais ritmos populares? Além disso, as climáticas seqüências finais se desenrolam justamente no Mardi Grass, o característico carnaval da cidade. Vale mencionar ainda que vilão Dr. Facilier é uma assustadora síntese de alguns preceitos do vodu (espécie de religião não oficial da região), invocando demônios e maléficas sombras para colocar em prática seus planos. Aliás, a Disney se arriscou ao fazer uma abordagem ambígua e sem muitos maniqueísmos da questão racial. Se a heroína Tiana é mostrada como uma decidida e valorosa afro-americana, o Dr. Facilier recebe um tratamento completamente diverso – malandro, insidioso e violento (chega a matar um dos mais carismáticos personagens do filme), certamente é um dos antagonistas mais cruéis a aparecer numa animação da Disney. O seu trágico fim, arrastado por seres monstruosos para um outra dimensão, é uma seqüência que é puro pesadelo.
Representando uma volta triunfal da Disney depois de alguns anos sem aparecer com uma animação de confecção própria, "A Princesa e o Sapo" evidencia também que as tecnologias mais recentes não representam necessariamente a extinção dos desenhos tradicionais. Afinal, que obra digital nesse ano ofereceu um espetáculo visual tão prazeroso quanto esse produto proveniente dos domínios do velho Walt??
Um comentário:
O filme é bonito, mas fraco em termos de enredo e de mensagem. Muitos furos de roteiro (porque Charlotte não virou sapa quando beijou o príncipe?), e muita coisa acontecendo sem sentido, só porque senão não haveria história
O filme quer muito mérito por mostrar uma heroína que trabalha duro e não está focada em romance, mas depois desiste para forçar um romance a protagonista, ao mesmo tempo em que zomba de fantasias românticas, com a Charlotte. Em resumo, o filme quer tudo ao mesmo tempo, ser romântico e se mostrar esperto fazendo piadinhas sobre romantismo.
Pedro
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