Essa produção ítalo-brasileira de 2008 é muito mais que um simples drama bem intencionado e politicamente correto sobre a questão indígena no Brasil. É claro que paira sobre o filme uma forte visão crítica sobre o tratamento recebido pelos índios nativos, além da intenção de contextualizar as mazelas pelas quais os mesmos passam. Para enquadrar toda essa gama temática, o diretor Marco Bechis compôs uma narrativa sóbria e fascinante. Poucas vezes no cinema nacional os nossos silvícolas foram caracterizados de forma tão individualizada – os membros da tribo Kaiowá, protagonistas de “Terra Vermelha”, não são reduzidos ao papel de vítimas de rostos indistintos. São mostrados como pessoas de personalidades próprias e ao mesmo tempo trazem consigo as angústias e dificuldades que afligem o seu povo. Fascinante também é a forma com que Bechis filma a natureza que cerca seus personagens. A mata densa e misteriosa é retratada quase como um ente vivo, testemunha melancólica de uma luta desigual entre os kaiowás e os fazendeiros que os expulsam do campo. Esse estilo de filmar a natureza como um ente desconhecido e quase ameaçador remete a outras obras notáveis como “Apocalipse Now” (1979) e “Brincando nos Campos do Senhor” (1991).
Nenhum comentário:
Postar um comentário