Tentar fazer uma leitura do subtexto de “Cisne Negro” (2010) chega a ser quase redundante, pois o filme vive se auto-explicando: para atingir seus objetivos artísticos e pessoais como bailarina, a protagonista Nina (Natalie Portman) deve deixar aflorar o seu lado negro. O forte do diretor Darren Aronofsky nessa sua obra mais recente certamente não é a sutileza. E por falar nesse último requisito, talvez esteja aí o real grande conflito criativo do filme – sente-se uma grande propensão para o grotesco e o exagerado típicos de uma produção de horror, mas sem querer deixar de abrir mão de uma certa sofisticação de uma abordagem psicológica mais acurada. Quando o filme começa a partir para o explícito, quase que beirando o apelativo em termos de suspense e erótico, Aronofsky dá uma freada em busca da “densidade” artística. A indecisão do cineasta acaba truncando a narrativa de “Cisne Negro”. Mesmo assim, a produção se revela acima da média, principalmente pela sua perturbadora atmosfera sombria e pelo estilo insólito de Aronofsky em focalizar os ensaios e apresentações de balé (com destaque para a sequência de abertura, um legítimo e literal balé travestido de pesadelo). Alguns dos momentos de delírio de Nina trazem uma caracterização visual que impressiona pela beleza de sua violência e sordidez gráficas, além de revelar originalidade na manipulação das trucagens. Tais virtudes fazem o saldo final de “Cisne Negro” mais que positivo, ainda que se sinta um certo grau de decepção pelo fato de não estar no mesmo nível de “O Lutador” (2008), o brilhante penúltimo filme de Aronofsky.
Um comentário:
Tenho reparado também nisso, de as visões sobre o filme serem muito extremas. Talvez isso ocorra pelas altas expectativas que ele gerou. Muita gente esperava uma obra-prima e no final só veio um ótimo filme...
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