terça-feira, fevereiro 15, 2011

O Vencedor, de David O. Russell ****


No cinema, a questão fundamental não é a história que se conta, mas sim a forma com que essa história é contada. Lembro tal assertiva porque desavisados podem ler a sinopse de “O Vencedor” (2010) e torcer o nariz logo de cara. Resumindo seria algo como uma trama tendo um boxeador como personagem principal e sua trajetória de luta e superação pessoal, além de toques de dramas familiares. A primeira coisa que vem à cabeça é “Rocky – Um Lutador” (1976) e suas continuações e derivados. O que conquista o espectador em “O Vencedor”, entretanto, não é apenas a força emocional da sua trama, mas principalmente a encenação vigorosa oferecida pelo diretor David O. Russell. Logo na sequência inicial isso fica evidente, nas tomadas dos irmãos Dick (Christian Bale) e Mick (Mark Wahlberg) percorrendo as ruas de seu bairro, em um primoroso trabalho de fotografia e edição.

O fato do roteiro de “O Vencedor” se basear em uma história real faz com que Russell busque uma aproximação com um registro que beira o documental em vários momentos, emulando cenas “reais” captadas da televisão, com as imagens assumindo um granulado de tons nostálgicos, o que fica evidente em boa parte das tomadas das lutas. A dinâmica da narrativa estabelece uma relação com o próprio estilo ágil e elegante de luta dos irmãos boxeadores que protagonizam o filme. Além disso, a caracterização tanto de personagens quanto de situações se direciona para o contundente naturalismo, mas sem nunca abandonar o senso épico na sua concepção, remetendo a uma clássica e rica tradição do cinema norte-americano de obras como “Vinhas da Ira” (1940), “Sindicato dos Ladrões” (1954), “Bonnie & Clyde” (1967), “O Poderoso Chefão” (1972) e “Amantes” (2008).

Parte essencial nessa abordagem de Russell para a sua obra se encontra no seu elenco. Muito se comenta a verdadeira possessão de Bale em cena, mas ele encontra o contraponto perfeito nos maneirismos discretos de Wahlberg e nas expressões endurecidas e algo vulgares de Amy Adams e Melissa Leo.

2 comentários:

pseudo-autor disse...

O grande mérito desse filme está no diretor ser um cara inteligente e saber montar um elenco (tirando, é claro, o Mark Wahlberg que é sempre uma pedra sem expressão). Gostei muito de O Vencedor, não entendi o porquê de algumas críticas negativas no exterior.

cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

André Kleinert disse...

Bah, eu acho o Mark Wahlberg muito bom. Ele é perfeito para fazer uns tipos meio aparvalhados como em "O Lutador", "Fim dos Tempos", "Boogie Nights" e "Os Outros Caras". E ele está especialmente brilhante em "Os Infiltrados".