Talvez o maior mérito do cineasta Cao Hamburger em “Xingu”
(2012) seja a de não abrir grandes concessões temáticas e formais. A abordagem
do diretor concilia de forma sóbria o viés dramático ao expor as relações
humanas e a visão naturalista – nesse último sentido, é exemplar a forma com
que a direção de fotografia concebida por Walter Carvalho registra visualmente
as paisagens naturais, buscando enfatizar as florestas como um personagem em
si, que ao mesmo tempo fascinam pela beleza, mas também perturbam pelos mistérios
e perigos que carregam. Tal estética também se evidencia na maneira como Hamburger
e Carvalho filmam a rotina e os rituais dos indígenas, não se perdendo em deslumbramentos
com exotismos, e se preocupando em dosar com parcimônia o sentido épico das
tomadas e o tom documental de outras sequências. O roteiro, por vezes, é um
tanto truncado, principalmente nos momentos em que adquire um certo tom de
didatismo ao narrar a trajetória dos irmãos Villas Bôas. Deve-se enfatizar,
entretanto, o mérito do texto em não pretender adotar
a postura biográfica “chapa branca” – ainda que evidencie as boas intenções e
as conquistas dos protagonistas, seus dilemas
e contradições não são esquecidos ao longo da trama, o que dá ao filme uma
considerável grandeza dramática. A conclusão do filme, ainda que traga uma
certa atmosfera de esperança, também revela o travo amargo, mostrando que “Xingu”
chega perto de registrar com fidelidade a complexidade da questão indígena no
Brasil.
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