quarta-feira, junho 20, 2012

A navalha na carne, de Braz Chediak ***1/2


O grande mérito das peças escritas pelo dramaturgo Plínio Marcos é a combinação insólita e natural da estrutura clássica de tragédia com uma brasilidade crua, em histórias repletas de violência, linguagem direta e coloquial (às vezes escancaradamente chula) e personagens malandros e/ou marginais. A transposição para o cinema de “A navalha na carne” (1969) concebida e executada por Braz Chediak é exemplar na forma com que preserva a típica atmosfera sórdida da obra do teatrólogo e, ao mesmo tempo, consegue adaptá-la para um conceito cinematográfico. Isso fica evidente na meia-hora inicial do filme, praticamente sem diálogos, em que a câmera percorre cenários de cortiços e ruas, seguindo seus personagens e delimitando com precisão a ambientação suja e escura daquele universo. Quando o trio de protagonista finalmente parte para o conflito dramático em diálogos viscerais e perturbadores, não há a sensação de teatro filmado – Chediak descarta a empostação, e obtém um notável naturalismo nas atuações de Jece Valadão, Glauce Rocha e Emiliano Queiroz. A tensão é palpável e constante, mesmo que a origem dos conflitos se dê por mesquinharias e futilidades. Talvez seja justamente isso que traga a permanente sensação de incômodo em “A navalha na carne” – a gratuidade das agressões em um meio em que sentimentos e a própria vida parecem não valer grande coisa.

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