Tinha tudo para ser um documentário acima da média: profusão
de imagens de arquivos raras e interessantes, figuras fortes do meio cultural
brasileiro dando depoimentos e, mais importante, um biografado fascinante no
seu talento artístico e complexidade pessoal. O resultado final de “Raul Seixas
– O Início, o fim e o meio” (2011), entretanto, fica muito aquém de suas
premissas promissoras. O filme peca por uma estrutura narrativa convencional e
pela escolha de elementos temáticos que pouco acrescentam na compreensão do
mito e do homem. O diretor Walter Carvalho acabou se perdendo excessivamente em
detalhes pessoais de Raul que na prática pouco interessam ao espectador ou aos
próprios admiradores da música do protagonista,
principalmente no terço final do filme quando há uma certa predominância de
entrevistas que se resumem em trocas de farpas entre as ex-mulheres de Raul. E
isso incomoda também quando pensamos nas várias seqüências filmadas de shows e
gravações em estúdio importantes que Raul deixou registrado para posteridade e
que poderiam ter sido melhor aproveitadas na produção em questão. Seria mais
interessante focar em detalhes sobre os discos, no papel de tais obras para a
evolução artística do cantor, em como as canções dele eram reflexo das
contradições e conflitos da época em que foram escritas, do que privilegiar as
fofocas familiares ou folclores (como dar destaque demais para os fãs que fazem
show cover do seu ídolo). Talvez o cineasta tivesse de ter visto com atenção o
extraordinário “Rock Brasília – A Era de Ouro” (2011), do seu irmão Wladimir
Carvalho, que conseguiu obter uma bela síntese entre o aspecto histórico e o
intimismo ao focar o movimento musical em questão. É claro que a obra de Walter
Carvalho tem os seus méritos – as tomadas com as apresentações de Raul são
antológicas, os momentos que tratam do envolvimento dele com satanismo tem um
impacto que oscilam entre o assustador e o engraçado. Mas nos final das contas
“Raul Seixas – O início, o fim e o meio” acaba soando mais como um registro
curioso do que como uma versão definitiva sobre a trajetória de Raul.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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