A premissa inicial da produção italiana “Quando a noite...” (2011)
é bastante interessante no sentido de explorar a questão da suposta
incondicionalidade do amor materno. Pelo menos nos dois terços iniciais do
filme, a diretora Cristina Comencini utiliza uma formatação de suspense psicológico,
situando a trama em um vilarejo turístico no meio das montanhas, onde Marina (Claudia
Pandolfi) passará alguns dias com seu filho ainda bebê hospedada na parte de
cima de uma casa rústica. A protagonista
progressivamente se mostra cada vez mais irritada com os choros e manhas constantes
da criança. Manfred (Filippo Timi), senhorio do prédio que mora no andar de
baixo, observando e escutando o que ocorre no andar acima, acredita que a
criança está em perigo nas mãos de Marina. Comencini deixa nebulosos os fatos e
as intenções de Marina, estabelecendo uma atmosfera tensa justamente pelo fato
do espectador não saber o que efetivamente está ocorrendo, até porque a própria
Marina parece se questionar em relação ao seu amor materno. As paisagens gélidas
e selvagens onde boa parte da história se desenrola colabora para a sensação de
estranhamento e ambiguidade que paira sobre a obra. Tal atmosfera de mistério,
entretanto, desvanece-se quando no terço final o roteiro dá uma esdrúxula virada
– Marina e Manfred se descobrem apaixonados, e a love story deslocada joga para
escanteio boa parte da originalidade e do impacto de “Quando a noite...”. No
final das contas, até vale ver o filme pelos seus elementos insólitos iniciais,
mas se fica com aquela sensação de que tal produção poderia ter sido bem melhor....
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