Há obras que, independente da sua qualidade artística,
acabam ganhando alguma importância por serem emblemáticas do seu tempo. Esse é
o caso da produção francesa “Flores do mal” (2010). Ao narrar a história do
breve relacionamento amoroso entre um descendente de imigrantes e uma estudante
iraniana recém chegada a Paris, o filme usa como matéria prima de sua encenação
uma série de elementos típicos da atual conjuntura sócio-econômica-política
mundial (os recentes conflitos entre governo e rebeldes no Irã, a disseminação
da influência das redes sociais, as discussões sobre identidade cultural, o uso
intenso de novas tecnologias) para gerar um híbrido de ficção e documentário, ora
meio desajeitado numa estética crua, ora dotado
de uma estranha poesia visual. Nem sempre aquilo que cai bem na tela do
computador via you tube acaba ganhando um registro de mesma potência na tela do
cinema, o que acaba tirando um pouco da força do filme. De qualquer, o
formalismo um tanto tosco de “Flores do mal” tem um certo aspecto perturbador,
propiciando até um certo tom delirante para a narrativa (principalmente quando
o protagonista desandar a dançar de forma
alucinada em meio aos cenários urbanos). O aparente colapso formal da obra, por
mais que deixe a produção na rota do desequilíbrio,
mostra-se em sintonia com a proposta temática de focalizar um mundo em ruptura.
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