Apesar de usar com frequência a literatura como fonte
original de seus roteiros, o cineasta Beto Brant vem aplicando em sua
cinematografia uma linguagem cada vez menos literária, no sentido de valorizar
uma narrativa que não dependa tanto da palavra, com o registro visual sendo o
verdadeiro fio condutor de sua concepção formal e temática. “Eu receberia as
piores notícias dos teus lindos lábios” (2011) aprofunda esta estética de
Brant. As cenas se sucedem com naturalidade insólita – valoriza-se mais a ação
em primeiro lugar, as explicações para os atos dos personagens surgem depois,
quase sem pressa. Nesse contexto, as seqüências de sexo adquirem um significado
primordial para compreender a obra: a fúria e a paixão com que os amantes Cauby
(Gustavo Machado) e Lavínia (Camila Pitanga) se atracam trazem um compêndio de
sensações e sentimentos que tomam a vida de tais personagens (medo, incerteza,
vazio existencial, angústia, segredos obscuros). A própria frequente nudez de
Pitanga adquire uma função narrativa importante para a trama, ao revelar um
misto de sensualidade e fragilidade concentradas na mesma pessoa (aliás, a
atriz apresenta uma entrega dramática e visceral rara de se ver em interpretações
femininas recentes no cinema nacional). Também é de se destacar na produção em
questão a forma com que Brant e o co-diretor Renato Ciasca combinam uma
abordagem de viés intimista e toques de drama social, sugerindo uma visão que
mostra que tais aspectos distintos na verdade guardariam uma relação intrínseca
entre si.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
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