terça-feira, junho 26, 2012

Eu receberia as piores notícias dos teus lindos lábios, de Beto Brant e Renato Ciasca ***


Apesar de usar com frequência a literatura como fonte original de seus roteiros, o cineasta Beto Brant vem aplicando em sua cinematografia uma linguagem cada vez menos literária, no sentido de valorizar uma narrativa que não dependa tanto da palavra, com o registro visual sendo o verdadeiro fio condutor de sua concepção formal e temática. “Eu receberia as piores notícias dos teus lindos lábios” (2011) aprofunda esta estética de Brant. As cenas se sucedem com naturalidade insólita – valoriza-se mais a ação em primeiro lugar, as explicações para os atos dos personagens surgem depois, quase sem pressa. Nesse contexto, as seqüências de sexo adquirem um significado primordial para compreender a obra: a fúria e a paixão com que os amantes Cauby (Gustavo Machado) e Lavínia (Camila Pitanga) se atracam trazem um compêndio de sensações e sentimentos que tomam a vida de tais personagens (medo, incerteza, vazio existencial, angústia, segredos obscuros). A própria frequente nudez de Pitanga adquire uma função narrativa importante para a trama, ao revelar um misto de sensualidade e fragilidade concentradas na mesma pessoa (aliás, a atriz apresenta uma entrega dramática e visceral rara de se ver em interpretações femininas recentes no cinema nacional). Também é de se destacar na produção em questão a forma com que Brant e o co-diretor Renato Ciasca combinam uma abordagem de viés intimista e toques de drama social, sugerindo uma visão que mostra que tais aspectos distintos na verdade guardariam uma relação intrínseca entre si.

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