segunda-feira, outubro 15, 2012

O que eu mais desejo, de Hirokazu Kore-Eda ***1/2


O diretor japonês Hirokazu Kore-Eda trafega em um gênero que beira o melodrama em “O que eu mais desejo” (2011). Com uma trama abordando questões familiares, e ainda tendo como fio condutor da narrativa o olhar infantil de uma dupla de irmãos, o filme se afasta do meramente sentimental. A influência da percepção dos protagonistas faz com que a produção adquira uma espécie de suave tensão entre o realismo e o viés fabular/onírico. O roteiro não apresenta grandes viradas e nem maiores arroubos dramáticos – sua preferência vai pelo registro discreto de pequenos atos do cotidiano. Tal opção não é gratuita, pois reforça ainda mais a angústia dos personagens principais pela reconciliação dos pais separados. O tom sereno da narrativa evoca algo da cinematografia do mestre Yasujiro Ozu, apesar de Kore-Eda não ter uma estética espartana tão rigorosa como Ozu. Essa aproximação se concretiza na proposta temática sem concessões: por mais que se possa comover e torcer pelo destino dos garotos, as resoluções dramáticas não apelam para soluções fáceis, revelando uma coerência com a proposta autoral do cineasta. Assim, ainda que não tenha a contundência criativa de “Depois da vida” (1998) ou “Ninguém pode saber” (2004), “O que eu mais desejo” se mostra em sintonia com o padrão autoral e artístico de Kore-Eda.

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