terça-feira, outubro 16, 2012

Vou rifar meu coração, de Ana Rieper ***


Em um primeiro momento, pode-se pensar que Ana Rieper enveredou em “Vou rifar meu coração” (2011) pelos caminhos tradicionais dos documentários musicais que de forma habitual vêm aparecendo nos cinemas. Afinal, canções e músicos vinculados ao gênero brega aparecem como fios condutores da narrativa. Na essência, entretanto, a produção dirigida por Rieper busca um objetivo mais nebuloso e complexo, querendo traçar uma espécie de itinerário existencial dos descaminhos amorosos do povo brasileiro. A concepção da cineasta é descarnada tanto no seu formalismo quanto no campo temático: no filme não há uma preocupação em detalhar a biografia dos cantores ou ressaltar sua importância (nem mesmo são colocadas legendas para identificação dos artistas), com depoimentos deles e populares simplesmente jogados na tela sem maiores cerimônias, assim como Rieper não se constrange em expor as entranhas sentimentais de seus entrevistados sem medo de resvalar no ridículo ou ofensivo. Nessa linha, o espectador envereda em um roteiro que abarca sexualidade a flor da pele, homossexualismo, bigamia, adultério, prostituição e um pouco de sordidez, mas sempre deixando brecha para mostrar que no meio de tudo isso há sempre espaço para o amor. Para Rieper, nada ilustra melhor essa montanha russa de emoções (que variam entre o emotivo, o perturbador ou o ridículo) do que as letras derramadas das canções de Odair José, Agnaldo Timóteo, Wando ou outro dos bardos focados em “Vou rifar meu coração”.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Não sei se rio ou choro, quando um dos entrevistados admite os erros que cometeu e que não deseja que outros façam o mesmo o ele fez. Vai nessa!